VIVER TERESINA

É um espaço destinado a colher informações e a divulgar a poesia contemporânea brasileira, a tradição poética nacional e a vanguarda internacional. Historiadores e ensaístas poderão publicar também textos sobre a história do Brasil. O nome Viver Teresina é uma homenagem a um movimento literário criado pelo escritor Menezes y Morais nos anos 70 em Teresina.

Email: chicocastropi@gmail.com


sábado, 4 de dezembro de 2010

DOCUMENTO SOBRE A PRISÃO DE JOÃO JOSÉ DA CUNHA FIDIÉ



Este documento de notável importância para a História do Piauí foi extraído da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro do Rio de Janeiro (Garnier, tomo XXXVI, primeira parte, Rio de Janeiro, 1873).

Fidié foi o comandante das tropas portuguesas quando se deu a Batalha do Jenipapo, perto da cidade de Campo Maior, no interior do Piauí, a 13 de março de 1823, episódio seminal para a definição da Independência do Brasil.

Chico Castro - Brasília - dez/2010

domingo, 7 de novembro de 2010

Meu Nós & Elis






O belo texto da Patrícia se refere a um período posterior aos primórdios do Nós & Elis. Porque, diz ela, a sua inserção nas noites do bar se deu quando o mesmo se encontrava sob a administração da família Fonteles, vale dizer, da médica Nazaré Fonteles, suas irmãs e irmãos.

Em 1989 (ano em que se deu o show da Patrícia que ainda era Melo), eu morava no Rio de Janeiro e recebi a visita do cantor Terra Francisco, à época namorado da Nazaré. O Terra foi à Cidade Maravilhosa gravar o seu primiero LP, ao qual dei uma modesta contribuição.

Como sou (bem) mais velho do que a Patrícia, tive a sorte de conhecer o bar desde o começo. Só pra se ter uma idéia, no dia 25 de abril de 1984, quando da votação das diretas, eu e mais uma pá de gente, estivemos lá torcendo. Além de frequentador assíduo era também um dos últimos a sair; ficava tomando as eternas saideiras como o dono, meu amigo Elias do Prado Júnior, de saudosa memória.

Vi muita gente famosa de hoje dando os seus primeiros passos na música popular brasileira feita no Piauí. E também ouvi muitas estórias e fui testemunha de muitos fatos que a minha prudência de cinquentão (fiz 56 anos dia 10.12.2009) não me permite mais revelar em público.

O certo é que o Nós & Elis deixou um lastro de glória e de vitória para a cultura piauiense. Lá, eu e muitos poetas fizemos vários happenings, madrugada adentro. Aliás as mulheres mais bonitas de Teresina estavam bem ao alcance de nossas cobiças libidinosas. A comida era boa e farta. No começo, o Elias dava uma prato a mais para quem pedia um jantar. Pagava religiosamente os músicos, um dos primeiros, se não o primeiro, a fazer tal prática uma questão pessoal.

Era no tempo em que a zona leste não tinha os espigões de hoje. Nem a violência. Saíamos para acender nossos baseados bem na pracinha que ficava ao lado do bar. Muitas vezes vim a pé para casa, só pelo prazer de andar pelas ruas desertas de Teresina, sem medo algum, ou pelo simples motivo de desejar acender mais um, antes do merecido sono. Ou por ter gasto todo o dinheiro com as eternas saideiras em companhia do Elias.

É isso. O Nós & Elis marcou um tempo que nenhum esquecimento pode apagar.

Chico Castro - (Crônica publicada originalmente no livro No Nós & Elis: a gente era feliz - e sabia/ Teresina: Gráfica Halley, 2010).

domingo, 24 de outubro de 2010

FAROFA BRASILEIRA


As carnes e a linguiça
O paio e o feijão
O amor e a preguiça
A guerra e a solidão

 

A favela e o medo
A sombra e o sol
O crime e o segredo
O noite e o arrebol

 

O verbo e o substantivo
O singular e o plural
O parado e o ativo
O sem gosto e o sal

 

A letra e a canção
A tinta e o papel
O crime e o perdão
O inferno e o céu

 

O masculino e o feminino
O judeu e o beduíno
O professor e a escola
A bolsa e a esmola

Chico Castro - Brasília, 2007


 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Dia do Piauí








O Piauí tem quatro vogais em seu santo nome. Vogal é um tipo de fonema que passa pela boca sem sofrer interrupção do ar. Ou seja, as vogais podem ser consideradas a liberdade de viver quando o coração emite o som que cada uma das cinco letrinhas possui.

As vogais são livres, mas mesmo assim, estão presas na teia das imperiosas consoantes. É como se elas dissessem: uma minoria privilegiada não pode viver longe da maioria sem nada nos bolsos ou nas mãos. Quer dizer, as vogais, sendo minoria em relação ao número de consoantes, mesmo assim botam a maior banca.

As vogais são encrenqueiras. São cinco, a, e, i, o, u. Mas na realidade quando querem, se multiplicam em sete. O último é de Pelé, é diferente do ê de medo, não é, meu dedo? O primeiro ó de pólvora, não tem o mesmo som do ô de povo, não é seu polvo?

O Piauí, sendo uma palavra formada por uma maioria de vogais, e sendo as vogais uma minoria na ditadura da gramática, a Terra de Mafrense é em si mesma uma brutal e maravilhosa contradição.

Pode ver. As vogais são uma maioria absoluta no Piauí. Se houvesse uma eleição, ganhariam a parada logo no primeiro turno. Quem manda no Piauí são as vogais que, mesmo sendo minoria na teoria, se orgulham de ser uma maioria na prática.

As consoantes são problemáticas. Vivem um eterno drama existencial. As coitadinhas vivem brigando com o ar que sai dos pulmões. Que pena! Morrem de inveja da liberdade das vogais, que, leves como as nuvens, voam no céu como uma carruagem de fogo puxada por dezenas de cavalos alados.

Tenho dó do P do Piauí. Na gramática, a sua família é bem maior do que a família das vogais. Como pode uma família menor mandar numa família mais numerosa? No Piauí, as vogais tudo podem. Mas o P vive sozinho, coitado, desgarrado como um boi sem pasto, uma noite sem estrelas, uma casa sem porta. Seguramente, não serão as vogais que vão dar uma mãozinha para o P, que há séculos vegeta na palavra Piauí.

O P do Piauí, que é o mesmo de Prometeu, vive a angústia e a dor de um deus traído e acorrentado.

Quem vai lutar por uma anistia ampla, geral e irrestrita para tirar do isolamento o P do Piauí?

Chico Castro
Brasília, 19 de outubro de 2010.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Autor autografa “A Coluna Prestes no Piauí" no estande do Senado na Bienal de São Paulo




O militar e político cearense Juarez do Nascimento Fernandes Távora foi um dos líderes da Coluna Prestes. A história oficial conta que ele foi preso nos arredores de Teresina (PE), no início de 1926. No livro “A Coluna Prestes no Piauí”, o jornalista piauiense Chico Castro defende outra tese: Juarez Távora não foi capturado, ele se entregou. No sábado passado, 21, o autor autografou sua publicação no estande do Senado na 21ª Bienal do Livro de São Paulo.

- A elucidação da suposta prisão de Juarez Távora é importante porque, a partir desse episódio, a Coluna Prestes perdeu forças e, ao invés de avançar para o norte do Brasil, recuou em direção à Bolívia para o exílio. No livro eu contesto a versão do próprio Juarez, de que ele foi preso. Na verdade ele praticamente se entregou. Percorri 5 mil quilômetros pelo interior do Piauí refazendo o roteiro que a Coluna fez no estado – afirmou Chico Castro.

Nessa excursão pelo Piauí em busca de vestígios, documentos e informações sobre a passagem da Coluna Prestes no Piauí, o jornalista recuperou fotografias antigas, bilhetes assinados por Luiz Carlos Prestes, além de cartas e telegramas. Chico Castro apurou ainda que foi nessa excursão em território piauiense que Prestes pela primeira vez manteve contato com o Partido Comunista Brasileiro. Alguns historiadores garantem que teria sido na Bolívia, já no exílio.

“A Coluna Prestes no Piauí” foi o penúltimo livro lançado por Chico Castro, em setembro de 2007. O primeiro foi “Camisa aberta e outros astrais”, em 1976, de poemas. O último, e décimo-terceiro, foi “Perfil Parlamentar do IIº Marquês de Paranaguá”, lançado pela editora da Câmara, em dezembro de 2009. A obra sobre Prestes foi lançada em diversas feiras de livro no Brasil e também em Havana e em Buenos Aires.

- Minha obra preenche uma lacuna da bibliografia brasileira sobre a saga da Coluna Prestes pelo interior do Brasil. Pouca gente do Sul e do Sudeste sabe que a Coluna esteve no Piauí. E esteve duas vezes. A primeira foi em dezembro de 1925 e a segunda em julho de 1926. O livro dá detalhe dessas duas passagens – explicou Chico Castro.

Fonte: Agência Senado

sábado, 17 de julho de 2010

SEM TÍTULO









Outro dia eu estava conversando com um amigo meu
sobre o sabor ruim do bombom ice-kiss

muito artificial para o meu gosto

na televisão tudo é muito bonito
dá vontade de chupar

ainda por razões não inteiramente explicáveis
e, portanto absurdas
semana passada um amigo meu foi preso e apanhou da polícia

depois ele me telefonou dizendo
que em face dos últimos acontecimentos
da vida política brasileira,
eu precisava fazer uma poesia mais social

vou publicar este poema no jornal
talvez ele mude de idéia.

Chico Castro - Rio de Janeiro/1984

segunda-feira, 12 de julho de 2010

SEM TÍTULO

Infelizmente, eu disse pra ela
Não posso fazer mais nada por você

Como uma agulha perdida
Numa pilha de papéis
Mas tem gente que adora
Ver o corpo refletido
No espelho dos motéis

Do começo de onde se estende a escuridão
Até o fim do sol da claridade
Sem nenhum alarde
Vou mostrar com quantos feijões se faz uma feijoada
Pois não se mede o amor como se mede uma estrada

Na hora dos noves fora
Não vou perder a calma

Se eu nunca fizesse
Tudo o que você quer
Nem por um punhado de dólares qualquer

Do começo de onde se estende a escuridão
Até o fim do sol da claridade
Vou mostrar com quantos feijões se faz uma feijoada
Pois não se mede o amor como se mede uma estrada.

Chico Castro - Teresina, 1995.