VIVER TERESINA

É um espaço destinado a colher informações e a divulgar a poesia contemporânea brasileira, a tradição poética nacional e a vanguarda internacional. Historiadores e ensaístas poderão publicar também textos sobre a história do Brasil. O nome Viver Teresina é uma homenagem a um movimento literário criado pelo escritor Menezes y Morais nos anos 70 em Teresina.

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quinta-feira, 10 de junho de 2010

UM GÊNIO ENCALACRADO



O mundo não sabia, o Brasil até há pouco tempo não tomava conhecimento, o Piauí nunca ligou.
Foi necessário a atenção, o trabalho, a dedicação de Denis Scoot, o curador, e de Martita Iço, responsável pelo texto do catálogo da exposição “O Passageiro da Esperança”, do fotógrafo Mário Fontenelle, uma maravilhosa iniciativa da Caixa Econômica Federal, que esteve em cartaz de 20 de abril a 23 de maio deste ano, na Galeria Cultural da Caixa, em Brasília, para trazer a lume o magistral trabalho de um maiores artistas do nosso tempo. A notícia é antiga. A Reportagem é fria. Mas a obra em questão é eterna, um repto, como a capital do Brasil, exemplo singular da melhor arquitetura do século XX.
Mas quem esse tal de Mário Fontenelle? Estive recentemente participando do 8º Salão do Livro do Piauí. Para meu espanto, até mesmo no círculo culto de Teresina, as pessoas com as quais conversei sobre a referida exposição não tinham conhecimento do homem que fotografou Brasília quando a cidade se erguia no meio da solidão do Planalto Central. Por conta dos 50 anos de Brasília, presumo, resgataram-se os primeiros instantes da construção dos prédios que subiam para as alturas do céu pelas mãos laboriosas dos bravos candangos que, deixando os grotões de Pindorama, vieram para compor um retrato da modernidade e do surrealismo brasileiros.
A bordo de um avião, Fontenelle fotografou uma das mais inusitadas imagens que o mundo conhece da certidão de nascimento de Brasília: aquela intitulada Estaca Zero, de 1957, na qual captou o sinal da cruz, do projeto vencedor de Lúcio Costa, que deu origem à capital do país. Depois daquele ano, disponibilizou para a posterioridade a monumentalidade das obras de Oscar Niemeyer, o cotidiano dos trabalhadores, o acampamento dos pioneiros, os rostos anônimos em paralelo com o registro de figuras famosas como JK e de Jango, na rampa do Palácio de Planalto, no dia da inauguração em 21 de abril de 1960, a de Fidel Castro, antes mesmo da festa inaugural, a de ícones da cultura nacional, a saber, Grande Otelo, Ataulfo Alves, Erivelto Martins e Marlene.
Segundo os organizadores da Exposição, mais de dez mil pessoas passaram pela Galeria da Caixa. Quando visitei a exposição tive a curiosidade de perguntar para a atendente se piauienses haviam participando da abertura ou se houvessem tomado conhecimento das obras expostas, aliás, pertencentes ao Patrimônio Histórico Nacional. A resposta foi evasiva. Mas, o meu leitor inteligente há de perguntar: por que essa preocupação com a presença de piauienses? Pois bem, pasmem, meus queridos conterrâneos, Mário Fontenelle nasceu no Delta do Parnaíba em 1919 e morreu à míngua num abrigo destinado a velhos, em 1984. Subiu para o andar de cima olvidado por muitos. Dizem que Lúcio Costa o visitou em seu leito de esquecimento.
Pior esquecimento ocorre no Piauí. Vamos fazer uma pesquisa? Eu gostaria que o meu leitor comentasse esta minha afirmação: onde Mário Fontenelle é lembrado em seu torrão natal? Mandei uma vasta papelada para os órgãos que cuidam da cultura e do turismo no estado. Até agora, não obtive nenhuma resposta. A bem da verdade, o pedido foi feito institucionalmente, mas mesmo assim, nada ainda pôde ser levado em consideração. Se fosse, eu saberia.
Ou já foi?
Por que não levar a Exposição para Teresina, para Parnaíba e para outras cidades piauienses? Se gasta tanto dinheiro com amenidades! Outorgam-se tanto títulos, muitos deles meras formalidades políticas! Por que se dá tanto mídia a quem nada ou pouco fez  pela terra de Mafrense!
E então?
A Caixa Cultural aceita o convite em aberto: 061.3206.9448 e 3206.9450.
Quem aceita o desafio? A entrada é franca.
Vamos resgatar Mário Fontenelle para nós mesmos.
Por que não?

Chico Castro – Brasília/09/06/2010

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